domingo, 28 de outubro de 2007
Quanto tempo leva para chegar a hora certa é agora ou nunca adianta esperar?
Dividiram minha vida em pedaços idênticos delimitados por traços percorridos por ponteiros. Esses espaços de sentido passam rápido e eu não chego. Será que o relógio acumula minutos ou milímetros? Quantos kilômetros de vida são necessários pra eu entender meu lugar no tempo? Eu sigo um ciclo irregular que não cabe em nenhum compartimento de ritmo binário constante minhas oscilações me fazem sentir desconfortável como Alice gigante na sala claustrofóbica e sobra pedaço meu pra fora eu dizia ainda é cedo e alguém tentando me encaixar é tarde, é tarde, tão tarde até que arde e urge e mente que o ônibus quebrou que o cachorro morreu que o galo cantou pra dentro e o dia não nasceu no quadro de horários escorridos.
Será que precisa falar que a tela é do Salvador Dalí? E que a citação é fala do coelho em Alice No País Das Maravilhas, que é do Lewis Carrol? E que a Alice é uma referência fortíssima que volta e meia emerge do meu subinconsciente?
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Música para os meus arquivos
Uma coisa boa da globalização é a aproximação que ela cria entre as pessoas que desfrutam do acesso a informação nos grandes centros do Brasil e do mundo.
Hoje em dia, é provável que uma pessoa que viva numa cidade como Belo Horizonte tenha muito mais a compartilhar (não humanamente, porque para isso não existe fronteira geográfica nem cultural) com alguém que viva em Buenos Aires, Estocolmo ou Natal do que com alguém que viva aqui ao lado, em Nova Lima, por exemplo, e que não esteja imerso nesse trânsito intenso de informação.
Nesse rolo compressor de referências muito se consome, se digere, se transforma e se produz.
Na música, por exemplo, no rock, pra ser mais específica, não existe mais aquela predominância da produção no eixo econômico brasileiro Rio-São Paulo. Isso porque a informação não se concentra mais exclusivamente nos pólos econômicos. O dinamismo no escambo de referências, questionamentos, estéticas e experimentações pode ser compartilhado por qualquer um que “freqüente” a internet. Com isso, a produção de rock, hoje, está pulverizada por todo o país. Existem representantes do estilo e cenas se fortalecendo por todo o território.
É claro que nesse bolo muita coisa não possui consistência, mas há, também, muita coisa interessante e significativa.
As duas últimas melhores descobertas que eu fiz, Los Porongas e Vanguart, são duas bandas provenientes de locais totalmente fora do eixo tradicional (Rio-Sampa) e também fora do eixo “alternativo” (Recife-Brasília-Porto Alegre). Los Porongas é de Rio Branco e Vanguart, de Cuiabá.
O mais interessante nessas duas bandas, a meu ouvir, é que ambas conseguem criar um som alicerçado em referências universais do rock e perpassado por particularidades nacionais e regionais. Quando eu falo em referências regionais não estou me referindo a esse regionalismo caricato e clichê que andam explorando por aí. É algo mais sutil que parece ser proveniente simplesmente de uma memória musical e poética dos artistas e suas influências. Não é uma necessidade oportunista de enaltecer o regionalismo ou de reverenciar esse ou aquele “mestre” do rock. São sonoridades produzidas por alguém que digeriu suas influências e conseguiu, sem se apegar a nenhuma delas, criar uma identidade própria. Por exemplo, o Vanguart foi citado num programa de televisão como um representante da folkmusic. Ao ouvir aquela viola em “Foreign Complaint” eu entendi porque. Essa música me remeteu imediatamente a artistas nacionais (talvez Almir Sater) conhecidos como sertanejos de raiz, caipira, ou sei lá, folk nacional. Não sei se foi isso que inspirou os caras, mas foi essa a sensação que eu tive ao ouvir os primeiros acordes. Por outro lado, o começo de “Blood Talking” me trouxe à memória “I’d love to change the world” do Ten Years After. Eu poderia falar de inúmeros outros resgates que me ocorrem, como a guitarra floydiana em “Cachaça”, a inevitável comparação com o vocal de Thom Yorque aqui e ali, mas, enfim, meu objetivo não é especular as referências dos garotos e sim, defender a personalidade musical que provém de uma costura (inevitável, hoje em dia) sonora de referências. Eu venho a público defender essa construção porque existem pessoas, ainda hoje, capazes de alegar mediocridade criativa nesse processo, como se fosse pertinente discutir originalidade atualmente, da mesma maneira que se discutia nos anos 60. Tanto no Vanguart quanto no Los Porongas (sobre os quais eu nem vou especular. Vocês se quiserem vão lá no site deles que já passei aqui no blog e tirem suas próprias conclusões- e depois me falem) as referências emergem e se dissolvem sutilmente, sem afetação, para formar uma grande massa sonora com identidade própria, nem ressaltando, nem dissimulando as influências. Quando elas tiverem que sobressair, que sobressaiam. Que ninguém aqui (eu acho) está tentando romper fronteiras e, ingenuamente, propondo um som original. A originalidade, no rock, é um artifício que conseguiu sobreviver até “OK Computer”, TALVEZ. Mesmo nele é possível detectar referências explícitas. Mas quem se importa em ser pioneiro vivendo num mundo globalizado? Todas as fronteiras já foram transpostas. O mais importante hoje é saber se mover, é não desperdiçar as referências e fazer bom uso dos caminhos que já foram desbravados. A dificuldade quando se tem muitas referências está em saber discernir o que pode ser eliminado. É esse o pulo do gato atualmente: usar o filtro com bom senso e criatividade. Tem muita gente desorientada por aí que não consegue se livrar do que é desnecessário. Citando Los Porongas, naquela que é a minha música preferida do álbum: tudo que não me interessa agora, eu jogo fora...
Hoje em dia, é provável que uma pessoa que viva numa cidade como Belo Horizonte tenha muito mais a compartilhar (não humanamente, porque para isso não existe fronteira geográfica nem cultural) com alguém que viva em Buenos Aires, Estocolmo ou Natal do que com alguém que viva aqui ao lado, em Nova Lima, por exemplo, e que não esteja imerso nesse trânsito intenso de informação.
Nesse rolo compressor de referências muito se consome, se digere, se transforma e se produz.
Na música, por exemplo, no rock, pra ser mais específica, não existe mais aquela predominância da produção no eixo econômico brasileiro Rio-São Paulo. Isso porque a informação não se concentra mais exclusivamente nos pólos econômicos. O dinamismo no escambo de referências, questionamentos, estéticas e experimentações pode ser compartilhado por qualquer um que “freqüente” a internet. Com isso, a produção de rock, hoje, está pulverizada por todo o país. Existem representantes do estilo e cenas se fortalecendo por todo o território.
É claro que nesse bolo muita coisa não possui consistência, mas há, também, muita coisa interessante e significativa.
As duas últimas melhores descobertas que eu fiz, Los Porongas e Vanguart, são duas bandas provenientes de locais totalmente fora do eixo tradicional (Rio-Sampa) e também fora do eixo “alternativo” (Recife-Brasília-Porto Alegre). Los Porongas é de Rio Branco e Vanguart, de Cuiabá.
O mais interessante nessas duas bandas, a meu ouvir, é que ambas conseguem criar um som alicerçado em referências universais do rock e perpassado por particularidades nacionais e regionais. Quando eu falo em referências regionais não estou me referindo a esse regionalismo caricato e clichê que andam explorando por aí. É algo mais sutil que parece ser proveniente simplesmente de uma memória musical e poética dos artistas e suas influências. Não é uma necessidade oportunista de enaltecer o regionalismo ou de reverenciar esse ou aquele “mestre” do rock. São sonoridades produzidas por alguém que digeriu suas influências e conseguiu, sem se apegar a nenhuma delas, criar uma identidade própria. Por exemplo, o Vanguart foi citado num programa de televisão como um representante da folkmusic. Ao ouvir aquela viola em “Foreign Complaint” eu entendi porque. Essa música me remeteu imediatamente a artistas nacionais (talvez Almir Sater) conhecidos como sertanejos de raiz, caipira, ou sei lá, folk nacional. Não sei se foi isso que inspirou os caras, mas foi essa a sensação que eu tive ao ouvir os primeiros acordes. Por outro lado, o começo de “Blood Talking” me trouxe à memória “I’d love to change the world” do Ten Years After. Eu poderia falar de inúmeros outros resgates que me ocorrem, como a guitarra floydiana em “Cachaça”, a inevitável comparação com o vocal de Thom Yorque aqui e ali, mas, enfim, meu objetivo não é especular as referências dos garotos e sim, defender a personalidade musical que provém de uma costura (inevitável, hoje em dia) sonora de referências. Eu venho a público defender essa construção porque existem pessoas, ainda hoje, capazes de alegar mediocridade criativa nesse processo, como se fosse pertinente discutir originalidade atualmente, da mesma maneira que se discutia nos anos 60. Tanto no Vanguart quanto no Los Porongas (sobre os quais eu nem vou especular. Vocês se quiserem vão lá no site deles que já passei aqui no blog e tirem suas próprias conclusões- e depois me falem) as referências emergem e se dissolvem sutilmente, sem afetação, para formar uma grande massa sonora com identidade própria, nem ressaltando, nem dissimulando as influências. Quando elas tiverem que sobressair, que sobressaiam. Que ninguém aqui (eu acho) está tentando romper fronteiras e, ingenuamente, propondo um som original. A originalidade, no rock, é um artifício que conseguiu sobreviver até “OK Computer”, TALVEZ. Mesmo nele é possível detectar referências explícitas. Mas quem se importa em ser pioneiro vivendo num mundo globalizado? Todas as fronteiras já foram transpostas. O mais importante hoje é saber se mover, é não desperdiçar as referências e fazer bom uso dos caminhos que já foram desbravados. A dificuldade quando se tem muitas referências está em saber discernir o que pode ser eliminado. É esse o pulo do gato atualmente: usar o filtro com bom senso e criatividade. Tem muita gente desorientada por aí que não consegue se livrar do que é desnecessário. Citando Los Porongas, naquela que é a minha música preferida do álbum: tudo que não me interessa agora, eu jogo fora...
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Hein??? Pada!
Anteontem eu entrei numa dessas lanchonetes especializadas em empadas. (pensando nisso agora, acho que empada tá na moda)
Enquanto estava comendo, resolvi dar uma folheada básica numa revista disposta no balcão para os clientes.Uma revista direcionada ao público masculino.
Cheguei à conclusão que eu nunca devo ter lido nenhuma revista desse tipo, pois confesso que fiquei surpresa ao descobrir que existem revistas masculinas elaboradas nos mesmos padrões de lavagem cerebral dessas inúmeras revistas femininas que prometem desvendar a fórmula secreta da realização emocional, sexual, profissional, etc.
Havia, por exemplo, uma matéria explicando pro “cara” como manter uma relação saudável de amizade com uma mulher. Entre as várias dicas que A jornalista que assina a matéria dava, estavam coisas do tipo: sim, é possível ser amigo de uma mulher e se divertir mesmo não rolando sexo. Até aí, forçando a barra no meu medidor de tolerância, dava pra passar batido, mas depois, essa senhorita teve a sapituca de argumentar que, para o “cara”, é interessante ter uma amiga, pois ela pode ser uma boa fonte de dados sobre o universo feminino e isso pode favorecê-lo no momento da sedução.
Eu não sei o que é mais engraçado: a jornalista que fornece uma dica dessas, ou o “cara” que segue o conselho. Eu sempre me divirto imaginando a aplicação desse tipo de informação. Imagina o “cara” ficando amigo de uma menina, conversando com ela, anotando, sorrateiramente, o que ela diz e depois, o que é pior, aplicando isso numa tentativa de conquista. Agora imagina o “cara” que leu essa matéria ficando meu amigo e eu fornecendo, sorrateiramente, as informações todas erradas e ele fazendo uso disso...Ai, ai...
Como se não bastasse, dando prosseguimento à leitura da revista (é, eu continuei a ler...), mais adiante, havia uma matéria que prometia revelar todos os segredos para se fazer uma mulher chegar ao orgasmo. Nada mais coerente, afinal, as revistas femininas prometem revelar todos os segredos para ser um “furacão na cama” e só um cara que conseguiu desvendar todos os mistérios do orgasmo feminino vai dar conta de um furacão na cama, certo? Se as dicas eram boas eu não sei, mas que tem alguém por aí a fim de aprender tem, porque nessa matéria só havia a primeira página com o título e a foto de uma boca de mulher com um morango dentro. Algum gaiato passou pela lanchonete e arrancou todos os segredos só pra ele...
Enquanto estava comendo, resolvi dar uma folheada básica numa revista disposta no balcão para os clientes.Uma revista direcionada ao público masculino.
Cheguei à conclusão que eu nunca devo ter lido nenhuma revista desse tipo, pois confesso que fiquei surpresa ao descobrir que existem revistas masculinas elaboradas nos mesmos padrões de lavagem cerebral dessas inúmeras revistas femininas que prometem desvendar a fórmula secreta da realização emocional, sexual, profissional, etc.
Havia, por exemplo, uma matéria explicando pro “cara” como manter uma relação saudável de amizade com uma mulher. Entre as várias dicas que A jornalista que assina a matéria dava, estavam coisas do tipo: sim, é possível ser amigo de uma mulher e se divertir mesmo não rolando sexo. Até aí, forçando a barra no meu medidor de tolerância, dava pra passar batido, mas depois, essa senhorita teve a sapituca de argumentar que, para o “cara”, é interessante ter uma amiga, pois ela pode ser uma boa fonte de dados sobre o universo feminino e isso pode favorecê-lo no momento da sedução.
Eu não sei o que é mais engraçado: a jornalista que fornece uma dica dessas, ou o “cara” que segue o conselho. Eu sempre me divirto imaginando a aplicação desse tipo de informação. Imagina o “cara” ficando amigo de uma menina, conversando com ela, anotando, sorrateiramente, o que ela diz e depois, o que é pior, aplicando isso numa tentativa de conquista. Agora imagina o “cara” que leu essa matéria ficando meu amigo e eu fornecendo, sorrateiramente, as informações todas erradas e ele fazendo uso disso...Ai, ai...
Como se não bastasse, dando prosseguimento à leitura da revista (é, eu continuei a ler...), mais adiante, havia uma matéria que prometia revelar todos os segredos para se fazer uma mulher chegar ao orgasmo. Nada mais coerente, afinal, as revistas femininas prometem revelar todos os segredos para ser um “furacão na cama” e só um cara que conseguiu desvendar todos os mistérios do orgasmo feminino vai dar conta de um furacão na cama, certo? Se as dicas eram boas eu não sei, mas que tem alguém por aí a fim de aprender tem, porque nessa matéria só havia a primeira página com o título e a foto de uma boca de mulher com um morango dentro. Algum gaiato passou pela lanchonete e arrancou todos os segredos só pra ele...
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Taí uma coisa que eu admiro: a fidelidade da galera que curte metal. Num mundo onde tudo vira moda, todo dia aparece um estilo novo que "pega bem" curtir. O que mais se vê são cenas passageiras e descartáveis. Com o heavy metal não é assim. Eu conheço gente que curte metal há 15 anos com a mesma paixão. E os fãs mais recentes também não parecem estar nem aí pros indies, emos, hypes, rappers, psys, raiz e tudo o mais que estiver em voga no momento.
Metal é metal e pronto. Blusa preta, calça preta e não se fala mais nisso. Se o cabelo é grande ou curto não importa.
Outro dia, o Marcelo, um amigo que tem um estúdio (estudioom@gmail.com), me contou que fez uma gravação com uma banda de metal que ensaia lá e comentou com eles:
-Pô, ficou doido.
Sabe qual foi a resposta?
-Doido não. Brutal.
É isso aí, Marcelo, se liga! Som de metal é BRUTAL.
Metal é metal e pronto. Blusa preta, calça preta e não se fala mais nisso. Se o cabelo é grande ou curto não importa.
Outro dia, o Marcelo, um amigo que tem um estúdio (estudioom@gmail.com), me contou que fez uma gravação com uma banda de metal que ensaia lá e comentou com eles:
-Pô, ficou doido.
Sabe qual foi a resposta?
-Doido não. Brutal.
É isso aí, Marcelo, se liga! Som de metal é BRUTAL.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Alzheimer coletivizado
Vamo lá. Esse foi o texto que me fez chegar aqui. Um amigo que leu me disse que eu precisava publicá-lo e sugeriu que eu fizesse um blog.
Taí o bendito:
A sociedade humana está sofrendo uma crise de Alzheimer coletivizado.
O excesso de estresse parece estar sobrecarregando as funções emocionais da nossa grande comunidade provocando uma regressão “comportamental”.
Eu explico. Outro dia eu vi, na televisão, o anúncio de um novo programa (mais um da série de reality shows) cuja proposta é dar uma ajuda às pessoas que não conseguem romper um relacionamento. Parece incrível, mas existem pessoas que não conseguem dar o famoso “pé na bunda”. Excesso de sensibilidade? Não. Incompetência emocional mesmo.
Eu sempre desconfio da veracidade desses programas porque me custa crer que realmente existam pessoas que não consigam, por exemplo, dar o fora em alguém (a ponto de pedirem ajuda “externa”), mas o simples fato de existir uma proposta de programa como essa (e considerando-se que esses programas são elaborados com base em pesquisas marketeiras, em perfis psicológicos de massa, etc, etc) comprova a existência de um público para tal, ou seja, tem alguma coisa no ar.
Quando começou essa onda de reality shows, oferecendo todo tipo de suporte a pessoas comuns, eu achei que fosse uma moda passageira e que isso não iria muito longe. Mas, a cada dia que passa, surgem novos programas e, a cada dia, parecem mais banais os suportes e, por outro lado, mais grave a degeneração emocional.
Se alguém dissesse a qualquer uma das minhas avós, há 50 anos, que seria publicado um “manual” cuja proposta seria ensinar aos pais como educar os filhos, elas com certeza não compreenderiam a necessidade. Mas hoje, essa necessidade parece estar cada vez mais presente. Quem nunca ouviu falar da Super Nanny? Assistir ao programa nos remete a um quadro que está se tornando muito comum: pais que perderam completamente o controle sobre o estabelecimento da noção de hierarquia dentro de casa. Há alguns anos, a frase anterior me soaria quadrada, autoritarista e opressora. Atualmente, entretanto, a palavra hierarquia deixou de soar como um mero artifício de poder. A forma como os pequeninos estão manipulando os adultos é evidente, menos, é claro, para aqueles que são os responsáveis pela perda do controle. Na verdade, acho que não é uma questão de controle, e sim, de equilíbrio saudável de papéis. A balança não tem que pender pra um lado só, mas cabe aos pais, indicar a medida saudável nesse balanço. E não é isso o que vem acontecendo. O que podemos assistir são cenas, nas quais, filhos são protagonistas ditadores, manipuladores e egocêntricos. Isso porque há, de um lado, uma mídia que influencia cruelmente as crianças e, por outro, pais que cedem à pressão e moldam a educação baseados numa relação de troca, compensação e culpa. Se de um lado você tem filhos autoritários e imperativos, do outro você tem pais impacientes, indecisos, inseguros e infantilizados. É comum, nos programas da Super Nanny, ver pais chorarem de desespero por não conseguirem lidar com os próprios filhos. A babá é, na verdade, babá dos pais.
O meu objetivo aqui não é problematizar a relação “pais e filhos” no mundo moderno. Por isso estou, de certa forma, simplificando os argumentos para ir mais direto ao ponto que desencadeou essa reflexão.
Eu me ative ao exemplo da super babá, mas poderia ser a qualquer um dos vários outros exemplos de programas do gênero. Alguns programas lidam com questões mais profundas (por exemplo, educação dos filhos e obesidade) e outros com dificuldades mais banais. Há programa para ajudar pessoas a conseguir namorar, casar, decorar a casa, educar os filhos, se vestir, ter estilo, decidir pra onde viajar, se alimentar, perder peso, abandonar vícios, ficar bonito e agora até mesmo, terminar relacionamentos. E é aí que eu me pergunto: Quando foi que abdicamos do nosso próprio eixo? Que lacuna é essa que está sendo preenchida por esses “assessores emocionais”? Até que ponto vai chegar essa necessidade de ajuda (dentro e fora dos programas de televisão)? Em todos os programas, os profissionais contratados para dar a assessoria são uma espécie de figura materna (ou paterna) que alia uma postura severa e disciplinadora a palavras de incentivo e estímulo à autoconfiança e persistência. A minha crítica não está no surgimento de dúvidas, indecisões, crises existenciais. Isso faz parte da história da evolução humana e é o que nos move adiante. A questão é como nós lidamos com isso hoje em dia. Como foi que nós deixamos de ser capazes de encontrar soluções (das mais complexas às mais banais) para os problemas criados por nós mesmos? Se analisarmos, historicamente, a nossa evolução, vamos concluir que estamos nos tornando mais autônomos, ou, ao contrário, estamos criando novos problemas e passando pra frente a responsabilidade de encontrar respostas? Estamos, cada vez mais, “terceirizando” nossas emoções? O que nós estamos fazendo com toda essa informação à qual nós temos acesso hoje em dia? Ao invés de nos apropriarmos dessas ferramentas, nós preferimos nos tornar cobaias dos especialistas?
Estudos indicam que um dos fatores causadores do mal de Alzheimer é o estresse mental. O estresse danificaria regiões do cérebro e provocaria a degeneração com o passar dos anos. Um dos sintomas do mal é a “regressão comportamental”, chegando o paciente, muitas vezes, à condição de uma criancinha de 2 anos de idade, se tornando totalmente dependente, tendo que reaprender a falar, andar, comer...
Imaginando que a nossa sociedade humana é um grande e único organismo, eu diria que o caos, o estresse e os hábitos insalubres estão provocando uma degeneração nesse grande organismo do qual fazemos parte.
A humanidade evoluiu cientificamente, intelectualmente e tecnologicamente de forma exponencial nos últimos 30 anos. Por outro lado, estamos tendo que reeducar nossas emoções para lidar com coisas básicas como nos alimentar, por exemplo. Será que nos tornamos tão complexos a ponto de complicar, prejudicialmente, operações triviais do nosso cotidiano ou será que estamos só ficando mais burros no quesito "sobrevivência"?
Taí o bendito:
A sociedade humana está sofrendo uma crise de Alzheimer coletivizado.
O excesso de estresse parece estar sobrecarregando as funções emocionais da nossa grande comunidade provocando uma regressão “comportamental”.
Eu explico. Outro dia eu vi, na televisão, o anúncio de um novo programa (mais um da série de reality shows) cuja proposta é dar uma ajuda às pessoas que não conseguem romper um relacionamento. Parece incrível, mas existem pessoas que não conseguem dar o famoso “pé na bunda”. Excesso de sensibilidade? Não. Incompetência emocional mesmo.
Eu sempre desconfio da veracidade desses programas porque me custa crer que realmente existam pessoas que não consigam, por exemplo, dar o fora em alguém (a ponto de pedirem ajuda “externa”), mas o simples fato de existir uma proposta de programa como essa (e considerando-se que esses programas são elaborados com base em pesquisas marketeiras, em perfis psicológicos de massa, etc, etc) comprova a existência de um público para tal, ou seja, tem alguma coisa no ar.
Quando começou essa onda de reality shows, oferecendo todo tipo de suporte a pessoas comuns, eu achei que fosse uma moda passageira e que isso não iria muito longe. Mas, a cada dia que passa, surgem novos programas e, a cada dia, parecem mais banais os suportes e, por outro lado, mais grave a degeneração emocional.
Se alguém dissesse a qualquer uma das minhas avós, há 50 anos, que seria publicado um “manual” cuja proposta seria ensinar aos pais como educar os filhos, elas com certeza não compreenderiam a necessidade. Mas hoje, essa necessidade parece estar cada vez mais presente. Quem nunca ouviu falar da Super Nanny? Assistir ao programa nos remete a um quadro que está se tornando muito comum: pais que perderam completamente o controle sobre o estabelecimento da noção de hierarquia dentro de casa. Há alguns anos, a frase anterior me soaria quadrada, autoritarista e opressora. Atualmente, entretanto, a palavra hierarquia deixou de soar como um mero artifício de poder. A forma como os pequeninos estão manipulando os adultos é evidente, menos, é claro, para aqueles que são os responsáveis pela perda do controle. Na verdade, acho que não é uma questão de controle, e sim, de equilíbrio saudável de papéis. A balança não tem que pender pra um lado só, mas cabe aos pais, indicar a medida saudável nesse balanço. E não é isso o que vem acontecendo. O que podemos assistir são cenas, nas quais, filhos são protagonistas ditadores, manipuladores e egocêntricos. Isso porque há, de um lado, uma mídia que influencia cruelmente as crianças e, por outro, pais que cedem à pressão e moldam a educação baseados numa relação de troca, compensação e culpa. Se de um lado você tem filhos autoritários e imperativos, do outro você tem pais impacientes, indecisos, inseguros e infantilizados. É comum, nos programas da Super Nanny, ver pais chorarem de desespero por não conseguirem lidar com os próprios filhos. A babá é, na verdade, babá dos pais.
O meu objetivo aqui não é problematizar a relação “pais e filhos” no mundo moderno. Por isso estou, de certa forma, simplificando os argumentos para ir mais direto ao ponto que desencadeou essa reflexão.
Eu me ative ao exemplo da super babá, mas poderia ser a qualquer um dos vários outros exemplos de programas do gênero. Alguns programas lidam com questões mais profundas (por exemplo, educação dos filhos e obesidade) e outros com dificuldades mais banais. Há programa para ajudar pessoas a conseguir namorar, casar, decorar a casa, educar os filhos, se vestir, ter estilo, decidir pra onde viajar, se alimentar, perder peso, abandonar vícios, ficar bonito e agora até mesmo, terminar relacionamentos. E é aí que eu me pergunto: Quando foi que abdicamos do nosso próprio eixo? Que lacuna é essa que está sendo preenchida por esses “assessores emocionais”? Até que ponto vai chegar essa necessidade de ajuda (dentro e fora dos programas de televisão)? Em todos os programas, os profissionais contratados para dar a assessoria são uma espécie de figura materna (ou paterna) que alia uma postura severa e disciplinadora a palavras de incentivo e estímulo à autoconfiança e persistência. A minha crítica não está no surgimento de dúvidas, indecisões, crises existenciais. Isso faz parte da história da evolução humana e é o que nos move adiante. A questão é como nós lidamos com isso hoje em dia. Como foi que nós deixamos de ser capazes de encontrar soluções (das mais complexas às mais banais) para os problemas criados por nós mesmos? Se analisarmos, historicamente, a nossa evolução, vamos concluir que estamos nos tornando mais autônomos, ou, ao contrário, estamos criando novos problemas e passando pra frente a responsabilidade de encontrar respostas? Estamos, cada vez mais, “terceirizando” nossas emoções? O que nós estamos fazendo com toda essa informação à qual nós temos acesso hoje em dia? Ao invés de nos apropriarmos dessas ferramentas, nós preferimos nos tornar cobaias dos especialistas?
Estudos indicam que um dos fatores causadores do mal de Alzheimer é o estresse mental. O estresse danificaria regiões do cérebro e provocaria a degeneração com o passar dos anos. Um dos sintomas do mal é a “regressão comportamental”, chegando o paciente, muitas vezes, à condição de uma criancinha de 2 anos de idade, se tornando totalmente dependente, tendo que reaprender a falar, andar, comer...
Imaginando que a nossa sociedade humana é um grande e único organismo, eu diria que o caos, o estresse e os hábitos insalubres estão provocando uma degeneração nesse grande organismo do qual fazemos parte.
A humanidade evoluiu cientificamente, intelectualmente e tecnologicamente de forma exponencial nos últimos 30 anos. Por outro lado, estamos tendo que reeducar nossas emoções para lidar com coisas básicas como nos alimentar, por exemplo. Será que nos tornamos tão complexos a ponto de complicar, prejudicialmente, operações triviais do nosso cotidiano ou será que estamos só ficando mais burros no quesito "sobrevivência"?
domingo, 14 de outubro de 2007
...
Outra fantasia eu costurei.
Outra analogia da minha imaginação visualizei.
Um holograma de sensações para me satisfazer. Não, obrigada.
Antes que a luz se acenda, eu mesma apago o final.
Uma história sem fins.
Deixa assim mesmo.
Um precipício.
Um buraco negro.
Uma coisa sem chão.
Sem lado avesso.
Suspensão.
Fica no ar o que poderia ser.
E não é.
Uma marcha ré de cara com o perigo e o abismo tentando te engolir.
Eu ía pular de cabeça, mas você pôs o pé na frente e eu só tropecei.
Melhor assim.
Menor a queda.
E aqui eu me abrigo.
Nas entrelinhas.
No que não foi dito.
Fica uma lacuna ecoando no espaço.
O que é, o que é? Qual é o cúmulo do vazio?
A interrupção.
E se...
Outra analogia da minha imaginação visualizei.
Um holograma de sensações para me satisfazer. Não, obrigada.
Antes que a luz se acenda, eu mesma apago o final.
Uma história sem fins.
Deixa assim mesmo.
Um precipício.
Um buraco negro.
Uma coisa sem chão.
Sem lado avesso.
Suspensão.
Fica no ar o que poderia ser.
E não é.
Uma marcha ré de cara com o perigo e o abismo tentando te engolir.
Eu ía pular de cabeça, mas você pôs o pé na frente e eu só tropecei.
Melhor assim.
Menor a queda.
E aqui eu me abrigo.
Nas entrelinhas.
No que não foi dito.
Fica uma lacuna ecoando no espaço.
O que é, o que é? Qual é o cúmulo do vazio?
A interrupção.
E se...
O milagre do surgimento dos feriados
Quando descobriram que o domingo é o dia oficial da preguiça, os outros seis pecados resolveram reivindicar seus respectivos dias semanais.
De cara, ficou acertado que a segunda-feira seria o dia da ira e a sexta, o dia da luxúria.
Mas daí pra frente, surgiram vários impasses.
Alguns pecadores defendiam que a quinta era o dia ideal para a vaidade, outros que seria mais adequado para a inveja, outros achavam que a luxúria deveria ter direito a, pelo menos, três dias na semana. Uns diziam que o sábado seria o dia da gula, outros achavam que o domingo era mais apropriado e foi aquela confusão.
Finalmente, alguém teve a idéia de conceder, democraticamente, aos sete pecados, todos os dias da semana e, para compensar tanta luxúria, tanta inveja e tanta preguiça, seriam criados os dias santos.
Mais uma vez a preguiça saiu na frente.
Em pouco tempo, os pecadores transformaram os dias santos em feriado.
E é justamente nesses dias que a preguiça reina absoluta.
De cara, ficou acertado que a segunda-feira seria o dia da ira e a sexta, o dia da luxúria.
Mas daí pra frente, surgiram vários impasses.
Alguns pecadores defendiam que a quinta era o dia ideal para a vaidade, outros que seria mais adequado para a inveja, outros achavam que a luxúria deveria ter direito a, pelo menos, três dias na semana. Uns diziam que o sábado seria o dia da gula, outros achavam que o domingo era mais apropriado e foi aquela confusão.
Finalmente, alguém teve a idéia de conceder, democraticamente, aos sete pecados, todos os dias da semana e, para compensar tanta luxúria, tanta inveja e tanta preguiça, seriam criados os dias santos.
Mais uma vez a preguiça saiu na frente.
Em pouco tempo, os pecadores transformaram os dias santos em feriado.
E é justamente nesses dias que a preguiça reina absoluta.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
ENTÃO TÁ!
Eu faço um blogue, caramba!
Pode até ser bom. Se for igual poesia, tudo bem. Eu escrevo de vez em quando, quando der vontade, quando bater aquele ímpeto de escrever.
Agora, se esse troço for igual diário num vai dar certo não, já vou avisando.
Tentei fazer diário na adolescência e achei um saco. Esse negócio de ficar registrando e comentando os acontecimentos da própria vida não é comigo. Minha vida num é tão emocionante assim. Por isso escrevo poesia. E também não tenho talento pra maquiar os fatos e torná-los interessantes.
Por exemplo, fiquei um tempo no orkut. Pra começo de conversa, quando resolvi aparecer, já tava todo mundo lá. Daí, depois de um tempo, eu parei, olhei à distância praquilo tudo e achei ridículo. Achei que era autopromoção demais.
O Andy Warhol foi um dos maiores visionários da contemporaneidade (não sei quantas vezes vou repetir isso na minha vida). Será que um dia essa fuga em massa do anonimato vai passar? O cara podia ter sido mais específico na profecia e ter dito quanto tempo íam durar os quinze minutos de fama de todo mundo. Só pra eu saber se eu sento e espero ou se eu vou ter que correr junto (ou, melhor, atrás, que é mais provável).
A Pilar falou “ai, Amanda, você é a pessoa mais humilde que eu conheço. Você nunca tem nenhuma intenção, nenhuma ambição com seus textos.” Num é humildade não, Pi. É preguiça mesmo. Essas coisas dão trabalho...
Por falar nisso, já vou avisando que eu num vou indicar disco, livro, filme, restaurantezinho que tem comidinha especial, lojinha que tem uns badulaques pra pendurar na casa da vovozinha, nada disso! Isso aqui num vai ser bloguezinho de literatura, nem de jornalismo, nem de cineminha cult, nem de piadinha, nem de crítica de coisa nenhuma, nem de nada que tenha qualquer tipo de utilidade por mais inútil que seja. E também num vou ficar postando imagenzinha disso e daquilo.
Eu só tô aqui porque, às vezes, me vem uma vontade incontrolável de escrever e aí eu mando emails gigantescos pros meus amigos. De tanto isso acontecer, muitos deles já me disseram: “Você devia fazer um blogue...” Acho que é o jeito educado deles falarem: “Pára de ficar mandando esses testamentos pra mim! Já inventaram um negócio pro qual você pode mandar seus textos e SE EU QUISER eu vou lá e leio, porra!”
Então eu tô aqui. A pessoa mais retardatária e sem intenções na face da terra...
Pronto, eu fiz o blogue! Agora se vocês não vierem me visitar, eu vou continuar a bater na casa de vocês pra vender enciclopédia do mesmo jeito, tá?
Pode até ser bom. Se for igual poesia, tudo bem. Eu escrevo de vez em quando, quando der vontade, quando bater aquele ímpeto de escrever.
Agora, se esse troço for igual diário num vai dar certo não, já vou avisando.
Tentei fazer diário na adolescência e achei um saco. Esse negócio de ficar registrando e comentando os acontecimentos da própria vida não é comigo. Minha vida num é tão emocionante assim. Por isso escrevo poesia. E também não tenho talento pra maquiar os fatos e torná-los interessantes.
Por exemplo, fiquei um tempo no orkut. Pra começo de conversa, quando resolvi aparecer, já tava todo mundo lá. Daí, depois de um tempo, eu parei, olhei à distância praquilo tudo e achei ridículo. Achei que era autopromoção demais.
O Andy Warhol foi um dos maiores visionários da contemporaneidade (não sei quantas vezes vou repetir isso na minha vida). Será que um dia essa fuga em massa do anonimato vai passar? O cara podia ter sido mais específico na profecia e ter dito quanto tempo íam durar os quinze minutos de fama de todo mundo. Só pra eu saber se eu sento e espero ou se eu vou ter que correr junto (ou, melhor, atrás, que é mais provável).
A Pilar falou “ai, Amanda, você é a pessoa mais humilde que eu conheço. Você nunca tem nenhuma intenção, nenhuma ambição com seus textos.” Num é humildade não, Pi. É preguiça mesmo. Essas coisas dão trabalho...
Por falar nisso, já vou avisando que eu num vou indicar disco, livro, filme, restaurantezinho que tem comidinha especial, lojinha que tem uns badulaques pra pendurar na casa da vovozinha, nada disso! Isso aqui num vai ser bloguezinho de literatura, nem de jornalismo, nem de cineminha cult, nem de piadinha, nem de crítica de coisa nenhuma, nem de nada que tenha qualquer tipo de utilidade por mais inútil que seja. E também num vou ficar postando imagenzinha disso e daquilo.
Eu só tô aqui porque, às vezes, me vem uma vontade incontrolável de escrever e aí eu mando emails gigantescos pros meus amigos. De tanto isso acontecer, muitos deles já me disseram: “Você devia fazer um blogue...” Acho que é o jeito educado deles falarem: “Pára de ficar mandando esses testamentos pra mim! Já inventaram um negócio pro qual você pode mandar seus textos e SE EU QUISER eu vou lá e leio, porra!”
Então eu tô aqui. A pessoa mais retardatária e sem intenções na face da terra...
Pronto, eu fiz o blogue! Agora se vocês não vierem me visitar, eu vou continuar a bater na casa de vocês pra vender enciclopédia do mesmo jeito, tá?
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Uma bic para a Amanda
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