quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Estou ouvindo uma música do Café Del Mar na qual eles fazem um remix da música tema do filme “O Expresso da Meia Noite” (Midnight Express). Curioso como a memória da gente se constrói. Essa música possui uma melodia que nunca me saiu da cabeça e sempre me despertou um sentimento de extrema melancolia e tristeza, ainda que eu nunca tenha assistido o filme. O simples fato de terem me descrito o enredo do mesmo- isso quando eu me encontrava na flor impressionável dos meus 11 anos de idade- me causou tamanha comoção que nem foi preciso assistir. Ouvir a música era o bastante para me emocionar ao ponto de quase chorar. Pensando sobre isso, não saberia dizer se foi o conhecimento da triste história verídica do rapaz preso e torturado na Turquia que me comoveu mais, ou se foi, simplesmente, a música- extremamente mórbida e tensa. O que eu sei é que hoje- mesmo sem ter visto, ainda, a obra de Alan Parker- ao ouvir esse remix do Café, uma angústia aperta meu peito e me corrói uma antiga tristeza compassiva.Acho que eu vou dar um jeito de assitir logo esse filme e capturar a imagem da imagem que me atormenta há tanto tempo e me afogar num mar de lágrimas. Talvez assim eu exorcize de vez essa música.

domingo, 29 de junho de 2008

Eu nunca consegui me adequar ao tempo dos relógios. É muito difícil, pra mim, conceber a idéia de um tempo divido em números. O tempo, assim como os números, é um conceito. Como é possível que algo conceitual possa delimitar outro algo também conceitual? Eu acho que seria muito mais simples se o tempo fosse mesurado por algo de uma natureza mais concreta, como por exemplo, a música.
Quando alguém me diz que quer me encontrar em tal lugar dali a meia hora, fica muito vago na minha cabeça. Ficaria mais fácil se a pessoa me dissesse “ a gente se encontra daqui a meio cd”. Quem quiser pontualidade extrema vai ter que especificar qual cd, mas é claro que num tempo medido por músicas ninguém vai achar ruim ter que esperar duas ou três faixas. Ruim mesmo é ter que esperar dez, quinze minutos. Tem coisa mais chata que minuto? E segundo então? E ainda tem gente que acha simples calcular esse troço. “Espera a água ferver e conta vinte segundos”. Eu sempre acho que tô contando muito devagar, ou muito depressa. Porque num fala “espera ferver e canta atirei o pau no gato”? Num tem erro. Sempre que algum turista pergunta “quanto tempo gasta de Pipa até Natal?”, minha língua coça pra responder “você vai gastar o último da Nação, um do Junio Barreto e mais o Samba pra burro do Otto e aí é bom que você aproveita pra ouvir outro tipo de música brasileira além de bossa nova ou bossa nova com eletrônico, né?” E não me venham com comentários do tipo “ah, mas nem todo mundo tem os mesmos cds!”. Na era do download, MP3 é um acessório muito mais popular do que relógio, ao invés de se fazer um ajuste de horários, se faz uma transfusão de MP3 e pronto. Se alguém aí estiver curioso sobre a minha carga horária diária de trabalho, eu num sei bem ao certo, mas se quiser saber em cds, eu digo: um da Vanessa da Matta; um da Dido; um do Jorge Bem; um do Bob Marley; um do Morcheeba; um da Lauryn Hill; um do Cypress Hill; uns dois de lounge, um do Salif Keita e mais um do Luiz Melodia. Agora, o meu almoço deve durar umas quatro músicas do Ramones. Ai, meu deus, deixa eu correr porque eu to numa lanhouse e pelos meus cálculos já faz tempo demais que eu to ouvindo esse forró brega. E ainda que num vá doer no meu bolso, o que eu duvido, já doeu demais no meu ouvido...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Tudo que é bom dura o tempo certo.
Felicidade é escolher.
A insatisfação, muitas vezes, é fruto da indecisão vaga, desprovida de matéria.
A maioria das pessoas acredita que, para ser feliz, é preciso acertar na escolha. Mas o maior trunfo não está no discernimento entre escolhas certas ou equivocadas.
Há que se elucidar algo que é anterior e mais profundo do que isso: a completa ausência de escolha. Quando não se sabe recusar, não se escolhe nada. Simplesmente aceita-se o que é oferecido. E quanto mais coisas nos oferecem, mais desejamos aceitar. Numa ânsia incessante por ofertas medíocres. Veja o quão paradoxal é o processo: buscamos avidamente a passividade. Acionamos toda nossa potencialidade em prol de coisas que nos banalizam, que nos nivelam por baixo. "Por favor, me dá dois desse, três daquele e mais um daquele outro." E seguimos aceitando, crentes que estamos escolhendo. Depois de engolir tudinho, vem uma baita indigestão. E dá-lhe antiácido que é pra engolir outro tanto mais tarde. E viva a liberdade de consumo. Consuma-se.
Hoje, durante meu horário de trabalho, eu estava caminhando pela praia mais linda aqui de Pipa e parei para dar um mergulho. O mar nessa baía (cujo nome é Baía dos Golfinhos) é bem tranquilo, então, é possível deitar e ficar boiando um longo tempo. Estava eu lá, há alguns minutos, sozinha, flutuando à deriva, ouvindo o abissal som da imersão no mar, assistindo a "imansidão" do azul celestial e compartilhando o cenário com alguns golfinhos que se alimentavam ao fundo, quando me veio à cabeça: como é bom escolher!
Não é simples. Porque o fluxo arrebatador nos induz a, simplesmente, aceitar. E, muitas vezes, a gente nem experimentou o quê querer. Mas quando a insatisfação começa a sussurrar nos nossos ouvidos, é necessário rever o que estamos aceitando escolher. E, mesmo que não se saiba exatamente onde buscar, a simples recusa nos faz, aos poucos -quase como um cão farejador que vai eliminando as falsas pistas- chegar mais perto do que nos é verdadeiramente precioso.
Subverta a ditadura da aceitação. Quem compulsivamente muito aceita, se contenta com pouco. Na dúvida, devolva.
(escrito em 23/05/08)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Quanto mais eu aprendo a gostar das coisas melhores elas ficam