Eu preciso fazer uma confissão. Há uma lacuna no meu passado que eu evito comentar, mas volta e meia alguém, que me conheça há mais de 15 anos, faz questão de reacender, e–já que eu não posso apagar do mapa essas pessoas– então eu resolvi fazer logo uma confissão pública pra tentar me libertar desse fantasma: EU JÁ FUI FÃ DE NEW KIDS ON THE BLOCK!!! Podem declarar a minha penitência. Ouvir Cavaleiros do Forró, durante uma semana, no mp3, que é para, além de ser torturada sozinha, o troço ir mais rápido pro sistema nervoso. Ou então, decorar todas as letras e coreografias do High School Musical. Falem logo a minha sentença e me libertem desse carma! Eu não sinto nenhum remorso por ter gostado de Menudo, pois na época eu tinha oito ou nove anos de idade. A questão com o NKOTB é que eu já tinha 14 anos, ou seja, bem velhinha pra cair nessa cilada. Af! Esses hormônios da adolescência acabam com qualquer moral. Nesse curto (mas inesquecível, né?!!) período, não me bastava agradar os ouvidos, eu queria amar, idolatrar, ser fanática. Tanto que, seis meses após a crise boy-band, eu passei a ouvir metal. Um caso extremo de vira-folhismo . E não era qualquer metal não, tinha que ser o mais brutal: Napalm Death, Carcass, Venon, Dorsal Atlântica e por aí...
Adolescência é mesmo uma viagem. De trem bala. Sem sistema de segurança e com direito a adicional de impacto. Você transita entre lugares completamente distantes (ou distintos) em fração de segundos. E o pior é que você acredita piamente na veracidade das paixões.
Agora cá entre nós, como um ser, com um mínimo de discernimento, num dia, é fã de um grupo que faz músicas com títulos do tipo “My favorite girl”, “Cover girl”, “Valentine girl”, Please don’t go girl” e, seis meses mais tarde, passa a idolatrar bandas que produzem trabalhos com títulos do tipo: “Depressão suicida”, “Necroticism”, “Reek of putrefaction”, etc?! Simples. Eu precisava idolatrar. Não importava bem quem fosse, e sim, COMO fosse. Por isso saí pegando carona em quem estava próximo a mim, sem o menor critério pessoal. Eu via o fanatismo da galera e queria levantar as mãos ao alto com o mesmo fervor! Glória!
Uma amiga de escola que era fanática pelos NKOTB chamou minha atenção pela sua fidelidade e dedicação. Daí eu pensei: é isso que eu quero. Mas o romance não durou. Nem tinha como. Eu ouço rock desde o útero da minha mãe, não tinha como aquela farsa me convencer por muito tempo. Mudei de lado. Comecei a andar com meus primos headbangers (se a gente estivesse nos anos 90 tooodo mundo saberia o que isso quer dizer) e abandonei, de vez, os almofadinhas. Mas o mesmo aconteceu nesse outro extremo: eu não consegui adequar minha audição ao gênero durante muito tempo. Foi então que, por entre a nebulosa mistura de visões, hormônios e confusões mentais, surgiu uma luzinha, que aos poucos, foi se tornando mais intensa, mais nítida e me trouxe de volta pra terra dos seres com opinião própria e escolha definida. A luzinha tinha nome: Faith no More. Ironia. Eu, que estava aflita por um fanatismo, fui salva, justo, por quem não tinha fé. A banda era tudo o que eu precisava: um vocalista gatinho, carismático e um som autêntico, com um certo vigor e ruído, mas nada de vômitos-vocais. Me perdoem meus companheiros de saga trash-metal, mas eu nunca gostei de verdade daqueles arrotos cantados. Perdoem a minha blasfêmia, mas no fundo, eu gostava mesmo era dos farofa. E gosto até hoje. Num minuto, apareceu uma coleção de camisa xadrez no meu guarda-roupa que saía do cabide direto pra cintura. Tudo o que eu passei a ouvir nessa época, permanece na minha lista. Dos tempos de pseudo-fanatismo-metal restaram uns poucos, como Suicidal Tendencies. O FNM foi mesmo um marco. Eu cheguei a ir num show dos caras com a Clarice (http://naofosseisso.blogspot.com/ ). A partir deles iniciou-se um processo de descobertas que se perpetua até hoje. Quase simultaneamente ao funkmetal do FNM veio a paixão pelos grunges (apesar de saber da repulsa que os próprios artistas tinham ao termo, eu adotei o apelido tranqüilamente e ignorei as críticas). Ouvi todos e ouço ainda hoje (ao contrário do Faith no More que eu até gosto, mas não ouço mais). Da cena de Seattle, Alice in Chains é meu preferido. Herança dos tempos de metal. Nessa mesma época eu também descobri Ramones e o “Rocket to Russia”, outra paixão que resiste às suspeitíssimas preferências de uma “garotinha-juvenil”. Mais ou menos na mesma época veio o Red Hot (que hoje em dia sobrevive no meu case graças a essa época) e dessa coisa meio rock/meio funk/meio metal/meio black music foi que eu aportei naquele que se tornou, mais que uma paixão, um amor de longos anos: o hip-hop. A ponte? Talvez tenha sido a parceria Public Enemy/Anthrax, não sei bem. Mas esse é um capítulo à parte, ou melhor, em partes. Eu precisaria de vários textos pra falar dessa história. Talvez seja por isso eu evito falar sobre. Porque vai demandar tempo demais. Qualquer hora dessas eu começo esse longo capítulo.
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6 comentários:
Me espanta a sua memória musical. Você poderia até escrever pra revistas especializadas de rock. É mesmo cultura musicalizada.
Quanto à sua penitência, por mim, você tá mais do que perdoada.
(Mais eu dublei Michel Jakson no colégio).
Um Abração procê!
olha, "a nível de" pessoa que te conhece há mais de 15 anos, lamento informar não pretendo parar de te zoar por isso, porque é muito divertido!
mas te dou os parabéns! é preciso muita coragem pra fazer uma confissão dessas, e tão pública! dizem que admitir um problema é o primeiro passo para livrar-se dele.
step by step, uh baby...
ãh? ãh? :-p
Bom já que o negócio é confessar, lá vai :
Eu sabia (e dançava)TODAS as coreografias e músicas das paquitas, tá bom assim....rsrsrrsr
Agora, se vc quer mesmo um castigo, use o que eu já usei, (numa tentativa muuuuuuuuito bem sucedida de auto flagelo), e vá a um show do LATINO...
É amiga, eu já fui e agora que minha alma está salva, eu posso dizer que VOU PRO CÉU....rsrsrsrrsr
Bjks...
Queridos Sandro e Carol, agradeço a solidariedade de vcs. É bom saber que existem amigos solidários, ao contrário de certas pessoas que ficam arriscando a própria vida falando besteiras por aí...Valeu a tentativa, mas acho que o meu deslize foi o pior de todos.
É foda isso. Vc tem um currículo musical acima de qqr suspeita e um deslizezinho temporário, um breve período "sem serviço" mental, um arranhãozinho naquele seu LP raríssimo de uma banda de progressivo-experimental-lisérgico dos anos 70, compromete todo seu histórico! Nada pode remediar uma coisa dessa. Nada, nada, carái!
Vou ter que carregar esse estigma pra sempre.
Oh, meu deus! Será que há uma chance dessa pobre pecadora ser redimida? Quem sabe um dia, alguém bem foda, tipo David Grohl (num desses inúmeros projetos nos quais ele se envolve) resolve gravar um cd de músicas do NKOTB em versões de industrial, bem pesado, barulhento e sujo. E aí o NK vai virar cult e eu, de barangosa histérica, sou, merecidamente, promovida à visionária...
Vai chover email na minha caixa: "bem que vc já previa..."
E aí todo mundo começa a descobrir a complexidade e personalidade musical dos garotos. E aí eu explico que eu já sabia disso e que realmente é isso mesmo, step-by-step era um código secreto que continha o passo-a-passo da evolução do pop musical
a partir dos 90 e que esse conhecimento só poderia ser acessado 15 anos depois, prq na época as pessoas não tinham visão pra isso e...Nossa, já tô até visualizando a minha consagração...
é, vc é completamente(!?!?) louca... mas imaginação é pra ser usada mesmo, né?
PUTZ, New Kids NÃÃÃÃÃÃÃOOOO!!!!!!
Penitência: engolir todos os 07 cds de trabalhos do Radiohead. Mas quando eles saírem, vc dá uma lavadinha e me devolve huahuahua (como estou escatológico hj)! Beijos, Amandanada!
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