domingo, 29 de junho de 2008

Eu nunca consegui me adequar ao tempo dos relógios. É muito difícil, pra mim, conceber a idéia de um tempo divido em números. O tempo, assim como os números, é um conceito. Como é possível que algo conceitual possa delimitar outro algo também conceitual? Eu acho que seria muito mais simples se o tempo fosse mesurado por algo de uma natureza mais concreta, como por exemplo, a música.
Quando alguém me diz que quer me encontrar em tal lugar dali a meia hora, fica muito vago na minha cabeça. Ficaria mais fácil se a pessoa me dissesse “ a gente se encontra daqui a meio cd”. Quem quiser pontualidade extrema vai ter que especificar qual cd, mas é claro que num tempo medido por músicas ninguém vai achar ruim ter que esperar duas ou três faixas. Ruim mesmo é ter que esperar dez, quinze minutos. Tem coisa mais chata que minuto? E segundo então? E ainda tem gente que acha simples calcular esse troço. “Espera a água ferver e conta vinte segundos”. Eu sempre acho que tô contando muito devagar, ou muito depressa. Porque num fala “espera ferver e canta atirei o pau no gato”? Num tem erro. Sempre que algum turista pergunta “quanto tempo gasta de Pipa até Natal?”, minha língua coça pra responder “você vai gastar o último da Nação, um do Junio Barreto e mais o Samba pra burro do Otto e aí é bom que você aproveita pra ouvir outro tipo de música brasileira além de bossa nova ou bossa nova com eletrônico, né?” E não me venham com comentários do tipo “ah, mas nem todo mundo tem os mesmos cds!”. Na era do download, MP3 é um acessório muito mais popular do que relógio, ao invés de se fazer um ajuste de horários, se faz uma transfusão de MP3 e pronto. Se alguém aí estiver curioso sobre a minha carga horária diária de trabalho, eu num sei bem ao certo, mas se quiser saber em cds, eu digo: um da Vanessa da Matta; um da Dido; um do Jorge Bem; um do Bob Marley; um do Morcheeba; um da Lauryn Hill; um do Cypress Hill; uns dois de lounge, um do Salif Keita e mais um do Luiz Melodia. Agora, o meu almoço deve durar umas quatro músicas do Ramones. Ai, meu deus, deixa eu correr porque eu to numa lanhouse e pelos meus cálculos já faz tempo demais que eu to ouvindo esse forró brega. E ainda que num vá doer no meu bolso, o que eu duvido, já doeu demais no meu ouvido...

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem sabe no futuro...
Bjão